Minha musa experiência

Adnavik, Noruega, 1936

Era uma vez Jonsi, um velho de barbas brancas, 92 anos, norueguês, considerado sábio pelo povo da região. Jonsi tinha um bisneto, Orri, de apenas 12. Um dia, chegando em casa bêbado de virtude, viu seu descendente deslumbrado pelas maçãs que brotavam no outono. Orri subia na copa das árvores e se divertia arremessando maçãs aos pequenos amigos, sob um vento ainda rascante reminiscente do inverno. As maçãs se espatifavam no chão ao som da risada de todos. Jonsi chegou e viu um chão vermelho e branco de maçãs amassadas pelos pés de pequenos meninos e logo se enfureceu.

– Orri!! – gritou já sem ar.

E todos os outros meninos correram para longe dali muito assustados. Orri, já sabendo o que se anunciava, desceu e pôs-se a olhar para baixo, sem coragem de encarar o bisavô.

– Você não sabe o que isso significa, pequeno Orri! Essas são frutas sagradas! Fonte de recompensas de nossos antepassados! Os deuses faziam as graças através delas, mantinham a juventude, então temos que ser…

– Mas são apenas maçãs… – retrucou tímido, Orri.

– Não ouse a desconfiar de seu bisavô!! Olhe minhas barbas brancas! Sabe o que isso significa? Experiência, pequeno Orri, experiência! Um dia você terá e dará conselhos aos seus bisnetos também, mas por enquanto ouça seu Jonsi, velho, que pode dizer de cadeira: não maltrate as maçãs, tenha cuidado!

… E Orri ouviu seu bisavô. Hoje, aos 87 não desconfia do poder sagrado das maçãs e ostenta uma grande barba branca. Nelas, escondem-se os anos de experiência que despontam nos olhos confiantes e cheios de autoridade, como bem disse seu bisavô.

Assis, Itália, 1936

Era uma vez Nicolas, um velho de barbas brancas, 92 anos, italiano, considerado sábio pelo povo da região. Nicolas tinha um bisneto, Paolo, de apenas 12. Um dia, chegando em casa bêbado de virtude, viu seu descendente deslumbrado pelas maçãs que brotavam no outono. Paolo subia na copa das árvores e se deliciava devorando maçãs junto à sua pequena amiga, sob um vento ainda rascante reminiscente do inverno. As maçãs eram mastigadas ao som de dentes e risadas dos dois. Nicolas chegou, viu a cena e logo se enfureceu.

Paolo!! – gritou indignado.

E a menina correu para sua casa assustada. Paolo, já sabendo o que se anunciava, desceu e pôs-se a olhar para baixo, sem coragem de encarar o bisavô.

– Você não sabe o que isso significa, pequeno Nicolas! Essas são frutas do pecado! Fonte de maldição de nossos antepassados! Deus condenou a todos nós por culpa delas…

– Mas são apenas maçãs… – retrucou tímido, Paolo.

– Não ouse a desconfiar de seu bisavô!! Olhe minhas barbas brancas! Sabe o que isso significa? Experiência, pequeno Paolo, experiência! Um dia você terá e dará conselhos aos seus bisnetos também, mas por enquanto ouça seu Paolo, velho, que pode dizer de cadeira: não compartilhe as maçãs, tenha cuidado!

… E Paolo ouviu seu bisavô. Hoje, aos 87 não desconfia do poder pecaminoso das maçãs e ostenta uma grande barba branca. Nelas, escondem-se os anos de experiência que despontam nos olhos confiantes e cheios de autoridade, como bem disse seu bisavô.

Moral da(s) história(s): as maçãs têm dupla personalidade.

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Uma resposta para Minha musa experiência

  1. Paulo disse:

    Rio de janeiro, Brasil, 1936

    Jorge Benjor, 98 anos bem vividos, pega seu neto, Tim, comendo maçãs no Engenho de Dentro. Quando este, considerando ter cometido um vacilo, já se preparava para o esporro, surpreendeu-se com o que ouviu de seu avô:

    – Olha, garoto, eu sei que maçã é bom. Desde Adão ninguém mais duvida. Mas não vai achando que é só sair metendo os dentes e pronto. É preciso pegar com jeito, lustrar direitinho, esperar madurar, aí sim, comer até o caroço. Te garanto: ela vai gostar de ser devorada tanto quanto vc de devorar. Agora, se não gostar, é porque deve estar mais pra abacate: verde.

    Tim ouviu seu avô. Hoje ele é produtor rural beneficiário de financiamentos do BNDES e possui um pomar de maçãs que são fornecidas para a Del Valle em troca de ais e uis sem fim.

    Brincadeirinha para descontrair!! Abração!

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